Do nostálgico ao moderno: a evolução das festas de aniversário em 25 anos

Do nostálgico ao moderno: a evolução das festas de aniversário em 25 anos

O que antes era uma reunião simples em casa, com bolo caseiro e decoração marcante (o papel crepom que o diga 😂), evoluiu para eventos que acompanharam as mudanças culturais e tendências da sociedade.

Hoje, as festas de aniversário podem variar entre celebrações simples e sofisticadas, mas a tecnologia também marca presença em boa parte dessas comemorações. Convites digitais, velas interativas e até videochamadas na hora dos parabéns com pessoas distantes são apenas alguns exemplos de como as festas se adaptaram à era digital.

A globo.com e os 25 anos de transformação 🎉

A exemplo das festas de aniversário, a globo.com, que completa 25 anos em março de 2025, também evoluiu. Desde a sua criação, o portal tem sido fonte de informação, ajudando a moldar tendências e conectar pessoas.

A globo.com se reinventou ao longo dos anos, acompanhando as mudanças da sociedade e trazendo inovação. Muitas vezes, antecipando as transformações da era digital para atender às demandas de um público cada vez mais conectado e exigente. Dessa maneira, a plataforma se consolidou como um dos maiores portais do país quando o assunto é referência em informação, entretenimento e serviços.

Assim como a globo.com se adaptou, cresceu e se consolidou como um dos maiores portais do país quando o assunto é referência em informação, entretenimento e serviços, as festas de aniversário também passaram por muitas mudanças, sem perder a essência de celebrar a vida com amigos e família.

As famosas festas dos anos 90 🥳

Não podemos falar sobre a evolução das festas de aniversário sem recordar os anos 90. Naquele tempo, as festas tinham um charme único e eram marcadas por uma fartura de comida. 😋 Como esquecer os bolos enormes que fizeram parte dos aniversários dá época? Eles tinham o formato retangular, ótimo rendimento (sobrava fatia praticamente para a vizinhança toda) e traziam muito glacê por cima. Alguns eram enfeitados com o popular granulado prateado.

Foto do aniversário de 6 anos da Gabriella Dias, produtora de conteúdo do Receitas, em abril de 1994 — Foto: Arquivo pessoal

Geralmente a mãe, uma tia, ou vizinha preparava o bolo, que tinha papel de arroz comestível – técnica de decoração que fazia enorme sucesso. Ou, então, eles eram feitos por boleiras. O sabor era variado, mas uma coisa era certa: os bolos, em sua maioria, eram regados com bastante guaraná. Justamente para ficarem mais molhadinhos.

Além do bolo, o cardápio incluía deliciosas guloseimas como brigadeiro, beijinho, cajuzinho, olho de sogra, gelatina no copinho, bolo salgado de pão de forma, salgadinhos fritos, bala de coco enrolada no papel de seda e os famosos bolos gelados de coco, embrulhados em papel-alumínio. Em geral, todas essas gostosuras eram feitas em casa com muito carinho e dedicação. Se você faz parte da galera 30+, certamente se lembra da sua mãe ou tia enrolando o brigadeiro da sua festa.

As festas eram simples, mas feitas com muito amor e dedicação. E a decoração era um show à parte. Nos anos 90, as festas eram marcadas por decorações feitas à mão, com muitas toalhas de crepom e plaquinhas de isopor. Nas festas infantis, os desenhos animados e personagens favoritos das crianças eram frequentemente escolhidos como tema principal da celebração.

Foto do aniversário de 6 anos da Gabriella Dias, produtora de conteúdo do Receitas, em abril de 1994 — Foto: Arquivo pessoal

A chegada dos anos 2000 e a evolução dos bolos de festa 🎂

Com a chegada dos anos 2000, as celebrações ficaram mais criativas, seguindo os costumes do momento, muitas vezes inspirados pela cultura pop da época. As divas pop, como Britney Spears e Beyoncé, se tornaram o tema de diversas celebrações. O tradicional bolo de aniversário retangular passou para o formato quadrado. Mas o objetivo continuava o mesmo: servir muitos convidados.

Contudo, atualmente, o mais comum é fazer ou encomendar o bolo de acordo com a quantidade de fatias que podem ser servidas. Por exemplo, um bolo pode ter 10 centímetros e render quatro fatias. Já um bolo de 25 centímetros pode servir de 45 a 55 fatias, em média.

Por que os tamanhos dos bolos mudaram? 🍰

A grande pergunta que não quer calar é: por que os tamanhos dos bolos mudaram tanto? Segundo a a confeiteira Karol Viana (@confeitariakarolviana), expert em bolos decorados, essa mudança é resultado da inovação e da modernização das técnicas de confeitaria:

  • “Acredito que esse formato de bolo tenha mudado porque as pessoas começaram a inventar muitas coisas, tipos de decoração, estrutura, e as coisas foram se modernizando. Antigamente o bolo era retangular porque era mais fácil de cortar, o padrão era mais fácil de manter. A estruturação dele não precisava ser tão trabalhosa como é hoje em dia. Normalmente eles só tinham duas, no máximo, três camadas de massa. Hoje, tem bolo com seis camadas de altura. E se fosse num bolo retangular, não ia ter estrutura para fazer um bolo tão alto assim. Eu acredito que, conforme os tipos de massa foram sendo estudados, foi tendo mais centralização no meio de uma festa. Muitas vezes, o bolo é o principal da festa. Eles pararam de ser somente um bolo para cantar parabéns e passaram a ser um momento artístico da festa.”

Na Confeitaria Karol Viana, os bolos mais produzidos são os de chantininho decorados com papelaria ou decorados com bicos de forma mais artística — Foto: Arquivo pessoal

Carola Troisgros (@carolatroisgros), boleira de mão cheia que produz bolos artesanais carregados de memória afetiva, acredita que as festas saíram da grandiosidade para algo mais minimalista e afetivo:

  • “Creio que, com o tempo, as pessoas também foram à procura pelo mais simples, pelo mais caseiro. Acho que as pessoas [também] foram ficando mais minimalistas. As festas saíram daquela grandiosidade – ainda existem, é claro, – mas as pessoas buscam um doce mais afetivo, um doce que as transportam para algum lugar.”

Carola Troisgros produz os bolos com afeto com gostinho caseiro. À esquerda está o bolo com massa amanteigada, brigadeiro de queijo e goiabada. À direita está o bolo com massa de chocolate, brigadeiro preto e brigadeiro Oreo — Foto: Vini Cordeiro e Gabriel Mendes

Já para Raphaela Severiano Ribeiro (@raphspatisserie), à frente da badalada Raph’s Patisserie há mais de 10 anos, a popularização dos bolos menores tem ganhado destaque, principalmente pela sua praticidade e versatilidade:

  • A confeitaria moderna valoriza a estética, e bolos menores permitem designs mais detalhados e personalizados. Além disso, são mais fáceis de transportar e armazenar, possibilitando uma variedade de sabores em uma única ocasião para agradar diferentes paladares. Eles também atendem celebrações mais intimistas, com porções individuais ou para pequenos grupos. Durante a pandemia de Covid-19, percebemos essa necessidade de adaptação: as famílias, mesmo reunidas em casa em grupos reduzidos, ainda queriam comemorar com um bolo bonito e delicioso. Foi nesse momento que a Raph’s viu crescer a demanda por bolos decorados, inclusive enviados como presentes.”

A Raph’s Patisserie oferece opções diversas de bolos que vão do clássico ao naked cake e linhas saudáveis, sem lactose, sem açúcar e sem glúten — Foto: Alex Woloch

Preferências dos bolos: as tendências atuais

Ao longo dos anos, vieram novas modas gastronômicas. É o caso do naked cake, que faz sucesso até em festas de casamento. Essa versão traz um bolo menos açucarado e com mais frutas. Outro destaque é o bolo coberto com pasta americana, que permite decorações mais elaboradas e personalizadas.

O bolo com pasta americana permite que os confeiteiros criem verdadeiras obras de arte — Foto: Gshow

Há outros que preferem a textura suave e aveludada do buttercream – um creme de manteiga que pode ter cores variadas, assim como a pasta americana. Outra moda que faz sucesso na atualidade é o bolo com chantininho, feito com chantilly e leite em pó, e, às vezes, leite condensado.

E não podemos deixar a moda do bentô cake – um bolinho pequeno que cabe dentro de uma marmita ou caixinha de isopor – fora da lista. O bentô cake costuma ser personalizado com frases curtas e criativas sobre o aniversariante.

À esquerda, temos a imagem de um naked cake. à direita, temos um bentô cake, receita de origem asiática — Foto: Globo e GNT

O universo da confeitaria está sempre em transformação, e as tendências atuais mostram um movimento que vai do minimalismo ao resgate do artesanal. Carola Troisgros, Karol Viana e Raphaela Severiano Ribeiro compartilham suas observações sobre as preferências dos consumidores.

  • Karol Viana: “A febre do momento são os bolos de chantininho decorados com espátulas, que dão texturas, que a gente consegue fazer formatos de flor, quadros, ou, então, pintar no bolo. Eles são os bolos mais produzidos na minha confeitaria. São decorados com papelaria, às vezes, decorados com bicos de forma mais artística, de forma manual mesmo, fazendo com os outros um trabalho feito por uma rendeira.”
  • Carola Troisgros: “Para 2025, o mais popular, eu acho que continua sendo os bolos nostálgicos e minimalista, mas tem uma grande tendência que está viralizando que é o glitter cake, que é um bolo com glitter comestível, que você assopra e voa glitter, mas é uma tendência mais jovem.”
  • Raphaela Severiano Ribeiro: “Os bolos minimalistas, com design simples e elegante, são muito procurados para aniversários e eventos sofisticados. Já os bolos decorados, com detalhes elaborados e temas personalizados, fazem sucesso em festas temáticas e casamentos, onde cada detalhe tem um significado especial.”

Brigadeiro tradicional e brigadeiro de copinho ou de colher — Foto: Receitas

Mas não foi só o bolo que foi repaginado. O brigadeiro tradicional ainda existe, mas deu lugar aos sabores gourmetizados e ao brigadeiro de colher, popularizado nas mãos da confeiteira Carole Crema.

A modernidade também trouxe, ainda, outras tendências culinárias, como os cupcakes, os famosos bolinhos que viraram febre nos quatro cantos do Brasil. Além disso, cardápios diversos ganharam destaques nas comemorações, com a inclusão das comidas veganas e vegetarianas, e festas com zero açúcar.

As festas de aniversário e as mudanças culturais

Em entrevista ao blog do Receitas, o doutorando em Comunicação e Cultura e divulgador artístico nas redes sociais Anthonio Silwa (@anthoniosilwa), analisa essas modificações. Para ele, as festas de aniversário são rituais culturais, por isso, estão sempre se transformando.

Ele destaca que, no passado, as festas eram mais espontâneas e focadas na celebração coletiva. No entanto, a modernidade trouxe um foco maior no “status”, fazendo com que o aniversariante se torne o centro das atenções, muitas vezes mais do que a celebração em si. Silwa também observa como o capitalismo atravessou as festas de aniversário, transformando-as em eventos planejados com meses de antecedência e outras preocupações. Abaixo, leia o relato do especialista, que, inclusive, fez gravou um vídeo sobre o tema e viralizou:

“Festas de aniversários são rituais culturais. Algumas etnias indígenas, por exemplo, não realizam a “contagem de primaveras” – sequer sopram velas. Portanto, se é cultural, significa dizer que é dinâmico. Vai mudar, logo, não precisamos de saudosismo ou apegos excessivos às formas antigas, porque elas também, em algum momento, foram novidades em relação a algum outro costume. Mas como nossa sociedade se desenvolve culturalmente em uma sobreposta relação com o capitalismo, vejo duas principais mudanças: uma na seara do status e a outra na seara do capital.”

“Note a espontaneidade das fotos dos aniversários da década de 80 e 90, e veja as nossas poses (com o pé levantado fazendo meia-ponta para modelar melhor o bumbum) nas nossas fotos contemporâneas. Existe uma autorreferência constante. Parcela significativa do ritual do aniversário parece agora ser uma busca de autoafirmação da imagem pessoal. Uma relação mais umbilical porém consigo mesmo.”

“Os ‘parabéns para VOCÊ’ agora têm tanto peso quanto o ‘muitas felicidades’. Espetacularização do aniversariante mais do que uma celebração coletiva dos ‘muitos anos de vida’. Esta é a seara do status.”

“Agora, o atravessamento capital está em tudo (não somente nos aniversários). O ritual, que é por definição marcado por seu aspecto simbólico, é dissolvido. Não mais fazemos uma festa simbólica para um ritual simbólico de contagem do tempo. Fazemos um planejamento financeiro estruturado, pensado meses antes do evento (guarde esta palavra). O número de brigadeiros deve estar no escopo! ‘Quantos presentes ganharei?’ – pondera o aniversariante com seus botões…”

“Existem empresas dedicadas exclusivamente à realização do aniversário como um evento (o atravessamento capital tem esse irritante hábito de transmutar as emoções gratuitas em relações comerciais baratas – ou não). Evento, aqui, etimologicamente: ‘evēntūs-us’ que tem o sentido de uma ‘saída feliz ou exitosa de uma situação’. Ou seja, um bom desfecho.”

“Portanto, não basta o símbolo. Ele precisa ser exitoso e continuar reverberando mesmo após o acontecimento, porque apesar de ser ‘saída’, ela é feliz, reverbera… (Daí as fotos, as lembrancinhas, os presentes). Porque nossa cultura materialista quer segurar materialmente algo sutil, simbólico.”

“Do ponto de vista econômico, pessoas, especialmente mulheres, puderam capitalizar sobre algo que, socialmente falando, era tido como uma obrigação gratuita e exclusiva do feminino, isto é, fazer bolo, decorar espaços, organizar eventos. O ganho em autonomia é inegável. Do ponto de vista social, é altamente perigoso perder de vista os processos e tão somente receber um produto pronto porque se pode pagar o suficiente para isso. Trata-se de uma espécie de alienação.”

“No caso das festa de aniversário, a manufatura coletiva e analógica do evento (fazer o bolo, preparar o espaço, assinar os convites de papel) ajudava a construir e reforçar, ao longo do processo, o principal aspecto das festas: a celebração coletiva simbólica da vida.”

“Portanto, aquilo que chamo de “terceirização dos detalhes” pode ter como consequência a precarização do simbólico. Você compra tudo, a festa, os doces, a decoração, menos o símbolo. Ele não pode ser terceirizado.”

Nostalgia e modernidade juntas

⁠Antigamente havia bolo grande e decoração artesanal. Hoje temos festas grandiosas e comidas em porções bem menores. Todavia, algumas festas atuais são totalmente inspiradas nos tempos passados. Anthonio Silwa comenta esse contraste:

“Numa sociedade espetacularizada, sempre vai ser mais interessante alimentar os olhos do que nutrir a alma. Daí festas opulentas: um deleite visual instagramável, mas um bolo que, por vezes, é de isopor, não é de comer, apenas agradável às vistas, decorativo mesmo. Declaradamente feita para as fotos. “Na contramão, antes do Instagram, os detalhes artesanais decorativos não tinham a preocupação da vigília da lente da câmera. No máximo da lente dos olhos dos vizinhos convidados. Então nutrir o lado de dentro era uma prioridade, mais do que o de fora.”

O tempo passa e novas tendências e comportamentos surgem. Mas a essência das festas de aniversário permanece a mesma: celebrar a vida e criar memórias inesquecíveis. Seja com simplicidade ou sofisticação, o importante é reunir pessoas queridas nos momentos especiais.

Leia também:

Link Original

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Deixe um comentário